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30 de jan. de 2014

O MITO DE VÊNUS



VÊNUS (AFRODITE)

Deusa do amor, do desejo, da fecundidade. Identificada na Grécia como Afrodite, com sua beleza encantava homens e deuses, provocando atração fatal em qualquer um que a encontrasse.

No entanto, para ela, às vezes, o doce ardor da paixão podia ter alguma implicação amarga.

Fascinante, sensual, sedutora, mas também volúvel e caprichosa, Vênus era considerada pelos antigos uma deusa “perigosa”. Sua beleza, de fato, tinha o poder de despertar os aspectos mais instintivos e irracionais da alma humana, provocando paixões e ciúmes que muitas vezes tinham um desfecho trágico.



GENEALOGIA DE VÊNUS


Sobre o nascimento de Vênus existem duas tradições distintas: a mais antiga remonta a Homero e faz da deusa do amor a filha de Júpiter e Dione, uma misteriosa divindade nascida da união entre Urano e Gaia.


A Teogonia de Hesíodo, no entanto, argumenta que Vênus nasceu da espuma do mar, fecundada dos genitais de Urano quando ele foi castrado pelo filho Cronos. Segundo esta versão do mito, Vênus, uma vez imersa da água, fora recebida pelas Horas, filhas de Tétis, que brincavam na praia e foram ao encontro dela, para cobri-la com véus e entrelaçar o cabelo louro com grinaldas de flores. Então teria sido levada pelo vento Zéfiro até Citera, e de lá para Chipre, onde pisou pela primeira vez em terra firme, fazendo brotar uma grama macia sob seus pés. Júpiter, soberano do Monte Olimpo, a recebeu como filha adotiva.

Diz-se que, um dia, querendo ser útil, Vênus começou a tecer um quadro, surpreendida por Athena, deusa das artes, e de imediato criou-se um mal entendido, porque a arte da tecelagem era uma virtude pertencente a Athena, e ela queixou-se a Júpiter. Vênus, depois de desculpar-se com Athena, decidiu não trabalhar mais, e dedicar-se apenas em fazer todos apaixonarem-se por ela. 

Uma versão alternativa diz que Vênus nasceu de uma concha, e que dentro dela foi levada sobre a espuma do mar até Citera.


Como deusa do amor, Vênus teve muitas aventuras, e muitos filhos. Nenhum deles veio de seu casamento infeliz com Vulcano, deus do fogo. A maioria de seus filhos foi gerado de sua relação com Marte, que inclui Cupido (Eros), Pan (Phobos) e Harmonia. Da sua relação com Anquises nasceu Enéas, herói troiano a que Virgílio atribuía a fundação de Roma.


                   Petra tou Romiou (local de nascimento da deusa), perto de Paphos, no Chipre



DUPLA NATUREZA

O culto de Vênus no mundo clássico tem certamente raízes muito antigas.

Acredita-se que a figura da deusa surgida a partir da espuma do mar provém da antiga mitologia oriental. Em particular, Vênus é muitas vezes tratada como Ashtoret (ou Astarte), a Grande Mãe fenícia, adorada por todos os povos da língua semítica e ligada a ritos de fertilidade e desejo. Como Astarte (e, mais ainda, como sua antecessora, a babilônica Ishtar), Vênus também é, de certo modo, uma divindade com duas faces: por um lado benéfico, porque está ligada aos ritos de amor, compaixão e maternidade, por outro terrível, ligada às forças mais escuras da Terra (daí a sua identificação em Esparta, Chipre e na ilha de Citera, com a deusa da guerra). Essa dualidade também se reflete na personalidade de Vênus que emerge do mito: se na maioria das histórias Vênus é celebrada por sua beleza e sedução - tão irresistível até mesmo para subjugar seu pai, Júpiter- em outros casos o seu poder sobre os outros assume forma brutal e vingativa. Como, por exemplo, Vênus é considerada por muitos autores a responsável ​​pela morte de Hipólito, culpado apenas de ser consagrado a Ártemis, e não a ela.

E no mito ovidiano de Eros e Psique, o ciúme no confronto da bela donzela amada pelo filho, induz Vênus a submete-la a toda sorte de tormentos.


Em Roma, Vênus começa a ser venerada como padroeira da  gens Iulia (estirpe imperial) e como mãe de Enéas, o fundador de Roma. E como tal, adquire o papel de protetora do império, uma função pública que à grega Afrodite nunca foi concedida.



A AMANTE INQUIETA


Em torno da figura de Vênus surgiram muitas lendas, não atribuíveis a um corpus unitário, mas fragmentadas e muitas vezes contraditórias. Muitas são inspiradas pelo casamento infeliz da deusa com Vulcano, o deus coxo de fogo, a quem seu pai a havia destinado. Para escapar da jaula de um casamento arranjado, Vênus traía o marido com um grande número de amantes, e sobretudo com Marte, a quem amava ardente.

Ao deus da guerra Vênus permaneceu fiel mesmo depois de seu marido tê-la pego dormindo com seu rival, os dois amantes presos por uma teia de arame invisível os expôs ao ridículo dos outros deuses, humilhação que levou Vênus a passar um período de exílio em Chipre, sua ilha favorita, longe dos olhos de todos, mas isso não impediu que ela, ao voltar para o Olimpo, retomasse seus casos amorosos com outros deuses, voltando a trair o marido bem como com Marte, Baco e Mercúrio.

A deusa também teve várias aventuras (nem todas com final feliz) com os homens mortais, incluindo o belíssimo Adônis e Anquises.


Além dos contos de teor erótico, o corpus mitológico de Vênus não propõe outro de conteúdo mais escuro, muitas vezes concebidos para enfatizar a natureza vingativa da deusa. Assim, quando as mulheres da ilha de Lemno deixaram de adora-la, a deusa as puniu afligindo-as com um odor fétido que levou seus maridos a traí-las e deixá-las. 

E quando a filha de Ciniras, rei de Chipre, a desonrou pelo seu comportamento, ela a castigou forçando-a prostituir-se com estrangeiros. Tal como os outros deuses do Olimpo, Vênus participou na Guerra de Tróia, ao lado dos troianos. Seu favor não salvou a cidade da destruição, mas permitiu 
a estirpe troiana sobreviver, graças à Enéas, que Vênus protegeu em sua fuga para Roma.


DECEPÇÃO PARA ANQUISES


Apaixonada pelo belo pastor Anquises, Vênus, para não assustá-lo, fingiu ser uma princesa frígia, e nessa qualidade o seduziu e amou. Quando Anquises descobriu o engano, ela tranquilizou-o sobre o seu destino (o jovem, de fato, temia ser punido por Júpiter por ter amado uma deusa) e anunciou que o filho nascido de sua união ganharia a glória eterna.



BELO PARA MORRER


Adônis era tão belo que, Vênus, apaixonada por ele, o fez seu amante. Talvez essa sua escolha tenha custado a vida do jovem, atacado por um javali que, segundo a lenda, foi incitado contra ele por Marte, ciumento dos favores concedidos por Vênus ao perigoso rival.



PIGMALEÃO E GALATEIA


Ovídio, em sua Metamorfose, conta o mito de Pigmalião, antigo rei de Chipre que se apaixonou pela estátua de mulher esculpida por ele mesmo. Louco de amor pela escultura, Pigmalião suplicou a Vênus que desse vida a sua criação. Oração que a deusa escutou, fazendo com que a estátua se transformasse em uma mulher de carne e osso. Pigmalião a desposou e com Galateia (este era o nome da mulher) teve uma filha, que por sua vez gerou a Ciniras, fundador da cidade de Pafo, um dos mais importantes santuários consagrados a Vênus.



SEDUÇÃO PERIGOSA


O arquétipo de Vênus como mulher fatal, sedutora, e ao mesmo tempo perigosa, nunca deixou de fascinar artistas e poetas.



Entre a Idade Média e o Renascimento, por exemplo, a deusa é protagonista de obras de grande ambição como La Teseide, de Giovanni Boccaccio, Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, e Vênus e Adônis, de William Shakespeare. Sem mencionar a abundante produção de pinturas focadas na deusa, incluindo a de Andrea Mantegna, Giorgione, Tiziano e Sandro Botticelli. No século XIX, a deusa do amor romântico é celebrada por Ugo Foscolo no poema inacabado Le Grazie. A revisitação do mito efetuada em 1932 por Salvador Dali, que redesenha a Vênus de Milo (a mais famosa estátua clássica de Vênus), transformando-a em uma beleza surreal.